Morreu ontem em Porto Alegre, aos
70 anos, João Gilberto Noll, um dos mais talentosos e representativos escritores
brasileiros contemporâneos, reconhecido e admirado por seus pares. Surgido nos anos 70, Noll despertou a atenção
com o notável livro de contos O cego e a
dançarina, em 1980. Com este livro faturou o primeiro Jabuti, que se
somaria depois a mais outros quatro. Seguiram-se quase duas dezenas de títulos,
entre os quais, A fúria do corpo, na minha opinião, uma verdadeira obra-prima, de 1981, Bandoleiros (1985), Rastros de verão, de 1986, Hotel
Atlântico (1989), Harmada (1993). Ao todo, treze romances, três coletâneas de
contos e dois infanto-juvenis. Por seus contos e romances marcantes, elaborados
com refinada espessura técnica, tratando em profundidade temas ousados e impactantes,
tornou-se referência fundamental para a literatura brasileiras das três últimas
décadas, grande influência para novos escritores. Muitos de seus relatos
ultrapassaram as páginas dos livros, através de adaptações cinematográficas. Além dos cinco Jabutis, conquistou ainda o
Prêmio Fundação Guggenheim (2002) e o Prêmio da Academia Brasileira de Letras
(2004).
quinta-feira, 30 de março de 2017
terça-feira, 21 de março de 2017
Adriana Versiani
Comemora-se hoje o Dia mundial da poesia. Aqui se apresenta Adriana Versiani, que faz poesia em Minas Gerais, com densidade e delicadeza. Publicou, em 2009, Livro de papel, atravessado por uma "respiração neobarroca", de acordo com Osvaldo A. de Mello, livro que integra duas coletâneas, Biografias de vocês que não existem e Mandrágora, entremeadas de coloridas e inventivas soluções gráficas e estéticas.
(Foto: luisprado.com.br)
Poema
Adriana Versiani ¹
Adriana Versiani ¹
hoje sonhei ser segredo,
seu segredo,
algo distante de mim.
aquilo que mora no pulmão do maestro,
enquanto pausa, enquanto lembra, enquanto espera o som.
sonhei ser antes da pintura da nave,
antes da tinta ou das mãos,
antes da ideia.
sonhei ser segredo,
seu segredo.
seu segredo,
algo distante de mim.
aquilo que mora no pulmão do maestro,
enquanto pausa, enquanto lembra, enquanto espera o som.
sonhei ser antes da pintura da nave,
antes da tinta ou das mãos,
antes da ideia.
sonhei ser segredo,
seu segredo.
¹ Adriana Versiani
Ouro Preto, MG. 1963
Ouro Preto, MG. 1963
terça-feira, 7 de março de 2017
Ensaios de poesia contemporânea
Foi lançado o site que abriga o volume com os trabalhos apresentados no I Congresso FALE de Poesia contemporânea em língua portuguesa, assinados por especialistas e pesquisadores brasileiros e portugueses. O evento ocorreu no ano passado (18,19 e 20 de abril, na UFMG, em Belo Horizonte). O resultado é um trabalho de muito bom gosto e serventia. Os organizadores estão de parabéns. Participo com uma comunicação sobre a poesia de António Franco Alexandre. A quem se interessar, vai aí o site: https://tamanhapoesia.wordpress.com/
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poesia moderna e contemporânea
sexta-feira, 3 de março de 2017
Antônio César Drumond Amorim
Livro do mês
De Milena, circo e sonhos, narrativa lírica de Antônio César Drumond Amorim, faturou o primeiro Prêmio Guimarães Rosa, do Governo do Estado de Minas Gerais, em 1975. Bastaria este prêmio, de alto montante, para torná-lo um livro representativo de toda uma década. Ilustrado por Gilberto Abreu, a quem se deve também a expressiva e ingênua capa, com vagas reminiscências dos desenhos de Exupèry, foi editado pela Imprensa Oficial de Minas Gerais, no âmbito da cobiçada premiação. O próprio autor sentiu “o fardo”, como se observa na erudita apresentação, com preâmbulo em homenagem a Sartre: “Acabo de receber um prêmio muito importante, não discuto o valor objetivo da coisa. Sobrenado muito bem disposto, muito burguesmente instalado em toda essa situação. É terrível”. Algumas linhas depois, confessa: “Eu não poderia nunca me manifestar fazendo música, pintando, esculpindo. Literatura é a maneira mais completa de a gente se manifestar, dizer que está aí, contar que vive. Estou falando de mim”.
De Milena, circo e sonhos, narrativa lírica de Antônio César Drumond Amorim, faturou o primeiro Prêmio Guimarães Rosa, do Governo do Estado de Minas Gerais, em 1975. Bastaria este prêmio, de alto montante, para torná-lo um livro representativo de toda uma década. Ilustrado por Gilberto Abreu, a quem se deve também a expressiva e ingênua capa, com vagas reminiscências dos desenhos de Exupèry, foi editado pela Imprensa Oficial de Minas Gerais, no âmbito da cobiçada premiação. O próprio autor sentiu “o fardo”, como se observa na erudita apresentação, com preâmbulo em homenagem a Sartre: “Acabo de receber um prêmio muito importante, não discuto o valor objetivo da coisa. Sobrenado muito bem disposto, muito burguesmente instalado em toda essa situação. É terrível”. Algumas linhas depois, confessa: “Eu não poderia nunca me manifestar fazendo música, pintando, esculpindo. Literatura é a maneira mais completa de a gente se manifestar, dizer que está aí, contar que vive. Estou falando de mim”.
O livro foi aquinhoado de tantos agrados oficiais que a crítica
considerou de bom alvitre silenciar a respeito. Por paradoxal que possa
parecer, diante de sua estrutura esgarçada e do distanciamento dos gêneros,
tudo coroado ao fim e ao cabo pelo prêmio, instalou-se uma tácita indiferença. A presença de posturas vanguardistas para a
época – pontuação pouco rigorosa, uso de minúsculas após o ponto final, excesso
de figuras de linguagem, - serviu para cercar o livro de uma cortina de olvido.
Poucos se deram ao trabalho de lê-lo,
esta a verdade. Isto é o que acabei
fazendo, nos últimos dias. Trata-se de um relato lírico, permeado de elementos
circenses e folclóricos. Recria situações amorosas entre um suposto Palhaço e a
idealização feminina. Milena corporifica o eterno feminino e agrega traços
constitutivos da amada etérea, impossível, distante.
“Na minha roupa recolhi estas estrelas. Eu as apliquei, mas não
renderam juros. Gastei a minha vida recolhendo estrelas, recontando flores.
Senhoras e
Senhores,
Estarei sendo irreverente? Por momentos as palavras reassumirão a sua autonomia bruta e a mente oca deste palhaço se encarregará de estraçalhar ideias” (AMORIM, 1975, 28).
Estarei sendo irreverente? Por momentos as palavras reassumirão a sua autonomia bruta e a mente oca deste palhaço se encarregará de estraçalhar ideias” (AMORIM, 1975, 28).
Há mais de quarenta anos, o
livro de Drumond Amorim projeta-se, como espaço de mistura de gêneros, na medida
em que abriga traços estruturais épicos e dramáticos, além dos elementos
líricos evidentes.
“Desmaiava em festas a cidade,
naquele tempo, bela-adormecida entre três montanhas e o mar. Não constava dos
livros de geografia, não constituía nem mesmo ponto em qualquer dos mapas
existentes nos mundos, rebrilhando ao sol para poucos.
Espero
justificar a ênfase com que distingo o dia de festas na destruída e já
soterrada cidade: - fora Milena a princesa que atraíra forasteiros, beijos e
olhares,
tão impressionista, em tom maior
esclarecerei: Milena firmara-se com relevância misteriosa, senhora encantada e
inconquistável” (AMORIM, 1975, 52).
Formado por Heráclio Salles,
José Guilherme Merquior e Rui Mourão, o júri destaca no Relatório alusivo à
escolha: “A sua estrutura se constrói por meio de pequenos segmentos poemáticos
– às vezes de um mero sintagma – que vão sendo dispostos sobre a página com
autonomia marcada pelo destaque dos espaços em branco mas que ao mesmo tempo se
interligam para constituir um fluxo contínuo, através de procedimentos
retóricos de grande eficiência e que acabam se tornando nos maiores
responsáveis pelo ritmo geral da composição”.
AMORIM,
Antônio César Drumond. De Milena, circo e
sonhos. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1975.
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Antônio César Drumond Amorim
quinta-feira, 2 de março de 2017
Dicionário de Fernando Pessoa...
Folheei, na Biblioteca da Faculdade de Letras da UFMG, o Dicionário de Fernando Pessoa e do Modernismo português, organizado por Fernando Cabral Martins. O título, numa aproximação breve, deveria ser Dicionário de Pessoa e de Leila Perrone. Excesso de citações de artigos da professora da USP, verbetes superficiais, redundantes, dizendo o óbvio, pouca novidade, se comparado a obras de maior fôlego, já existentes. Organizado com interesse no público francês, alvo de explícitas piscadelas, (efeito da globalização europeia?), ignora parte substancial da bibliografia sobre Pessoa produzida em solo brasileiro. Reflete certa indisposição com os pioneiros da área (Gaspar Simões, Prado Coelho, Berardinelli), Decepção maiúscula, proporcional ao ruído de marketing da época do lançamento.
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